quarta-feira, 8 de julho de 2020

MOÇÃO DE REPÚDIO: RACISMO EM LIVE SOBRE CINEMA GAÚCHO

Moção de Repúdio


O Conselho Estadual de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra/CODENE-RS, no uso de suas competências regimentais e atribuições conferidas pela Lei nº 11.901 de 25 de abril de 2003, vem a público manifestar repúdio veemente às declarações racistas da atriz e produtora Luciana Tomazi, expressas em “live” exibida na sexta-feira, 3 de julho de 2020. Em rede social ao comentar a influência estética de um filme, dizia estar muito à vontade naquele cenário, exaltando a sua descendência europeia e de outras pessoas, disse: “... Não adianta a gente tentar fazer um filme da senzala, entende? Não seria o nosso melhor. Então cada um tem que mostrar o que curtia e como é que veio. Então acho que eu “tava” totalmente ambientada. Inclusive eu tenho sangue francês também, não adianta, então cada um faz a sua história...”

A declaração da mulher branca, que se gabava de sua origem europeia, chocou a diretora e roteirista Mariani Ferreira. A jovem de descendência afro-brasileira ficou desconcertada diante de manifestação dotada de racismo e ancorada em privilégios da brancura.

O CODENE-RS ressalta que o conhecimento de História é fundante. Lembramos que se pessoas negras estiveram na senzala, foi por conta justamente de povos europeus que acumularam riquezas à custa do sangue e do suor de povos africanos. Igualmente, reforçamos que a história da população negra não se resume à escravidão. Convidamos Luciana Tomazi para que aprenda o proposto na Lei 10.639/2003, que trata do estudo da História e Cultura Afro-Brasileira. A atriz aprenderá que, do continente africano, foram sequestradas milhões de pessoas por escravizadores europeus. Saberá que pessoas de origem europeia realizaram e ainda realizam expropriações de riquezas de África, para enriquecer o continente europeu. A França, que tanto orgulho causa à atriz, foi um país destruidor e expropriador de África. A esse respeito a História Mundial confirma que o continente africano foi ceifado do seu bem maior que são as pessoas. Além do mais sua História de berço da humanidade e suas construções grandiosas em todas as áreas do conhecimento foram e continuam subestimadas pelos povos opressores.

Urge que a atriz e diretora saiba que a jovem Mariani Ferreira, junto com milhões de mulheres negras das Américas, celebrará no próximo 25 de Julho o Dia Internacional da Mulher Negra Afro Latina-Americana e Caribenha. A data destina-se a homenagear mulheres descendentes de pessoas africanas arrebatadas de seu continente para construir as Américas.

O proposital desconhecimento da História de África e do Brasil causa toda sorte de malefícios. Vai do pré-conceito, efetivando-se na discriminação negativa e reforçando as diversas formas de racismos presentes no tecido da sociedade brasileira. O desconhecimento histórico e o racismo internalizado na sociedade brasileira precisam ser desmontados. A manifestação racista expressada na fala citada demonstra a ignorância sobre a existência e a contribuição potente da população africana e afro-brasileira, para a formação socioeconômica e cultural do Brasil. Esquece a atriz e produtora que o lugar que hoje ocupa na sociedade brasileira foi negado àqueles que construíram por quase quatrocentos anos as riquezas do Brasil. Incluindo-se a pluralidade cultural brasileira.

Em consonância com demonstrações de enfrentamento aos racismos recentemente vividos mundialmente, reforçamos que atitudes de combate à discriminação negativa e aos racismos sempre foram e continuam sendo realizadas por mulheres pretas e homens pretos no Brasil. Entretanto assumem volume gigantesco nesse momento, porque é chegada a hora de denunciar e exigir a extinção de privilégios centenários da branquitude brasileira. Tal posicionamento demonstra a ignorância e o desprezo pela trajetória de resistência e luta da população negra na diáspora. Resistimos, sobrevivemos ao que de pior se pode atribuir a seres humanos, destarte evidenciamos nosso repúdio a posicionamentos racistas que insistem em buscar atribuir o lugar de subalternidade à população negra.

Que esta carta DE REPÚDIO sirva DE APRENDIZADO e para o entendimento de que pessoas negras são capazes e podem realizar qualquer atividade desde que tenham a oportunidade para fazê-lo. Racismo é crime!




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